Fui ativista estudantil (1967/68). Militante clandestino (1969/70). Preso político (1970/71). Tenho travado o bom combate, lutando por um Brasil mais justo, defendendo os direitos humanos, combatendo o autoritarismo.

Sou jornalista desde 1972. Crítico de música e de cinema. Cronista. Poeta. Escritor. Blogueiro.

Tentei e não consegui eleger-me vereador em São Paulo. Mas, orgulho-me de ter feito uma campanha fiel aos objetivos nortearam toda a minha vida adulta: a construção de uma sociedade igualitária e livre, tendo como prioridades máximas o bem comum e a felicidade dos seres humanos.

Em que a exploração do homem pelo homem seja substituída pela cooperação solidária do homem com os outros homens. Em que sejam finalmente concretizados os ideais mais generosos e nobres que a humanidade vem acalentando através dos tempos: justiça social e liberdade.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O MOMENTO EXIGE UMA REFLEXÃO PROFUNDA

AS CONCLUSÕES A TIRARMOS DO MENSALÃO E DO PETROLÃO

O mensalão existiu? Existiu.

O propinoduto da Petrobrás existiu? Existiu.

Muitos têm dito cobras e lagartos a meu respeito porque, antes como agora, eu me nego a fingir ingenuidade.  

No primeiro caso, ressalvei que todos os partidos influentes se emporcalhavam da mesmíssima maneira e que o rigor contra os réus petistas era inaudito; e também que o Dirceu e o Genoíno não haviam entrado nessa movidos pela ganância, mas sim por acreditarem que era o único jeito de garantirem a governabilidade (ou seja, não visavam ao enriquecimento pessoal, equivocando-se, contudo, quanto ao tipo de serviços que deveriam prestar à causa). 

Mas, tapar o sol com a peneira, isto eu não faço, porque sempre considerei que revolucionários e jornalistas têm um compromisso fundamental com a verdade; o meu eu honro, custe(me) o que custar.

Então, fico satisfeito com o reconhecimento explícito e inequívoco,  por parte de um figurão do petismo, de que quando há fumaça, há fogo.

O secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, acaba de afirmar que a corrupção continuará existindo "enquanto houver financiamento empresarial de campanha, e as campanhas tornarem-se o momento de muita gente ganhar dinheiro e de se mobilizarem muitos recursos". 

Para não restar nenhuma  dúvida, ele foi taxativo:
Gilberto Carvalho: sinceridade que fazia falta.  
"Não há quem controle a corrupção enquanto houver esse sistema eleitoral. Isso é com todos os partidos. Não há, infelizmente, nenhuma exceção".
Aplaudo a sinceridade do Gilberto Carvalho. Ele é um dos melhores quadros que restaram no PT depois que tantos idealistas saíram ou foram saídos.

Com idêntica honestidade intelectual, reconheço que ele está inteiramente certo quanto à receita para o sucesso no universo putrefato da política oficial. Os partidos que almejam eleger prefeitos, governadores e presidentes, bem como constituir fortes bancadas legislativas, são mesmo obrigados a, pragmaticamente, adotarem procedimentos ilícitos por baixo do pano.

Só não vejo como o financiamento público das campanhas eleitorais vá resolver o problema, pois os sucessivos escândalos nos revelam que os parlamentares e governantes corrompidos jamais se limitaram a obter o dinheiro sujo necessário para a caça aos votos; continuam se vendendo do primeiro ao último dia dos seus mandatos, já que, para tal escória moral, o céu é o limite. 

E a admissão de que é impossível controlar a corrupção na política oficial me leva à seguinte reflexão: para nós, revolucionários, vale a pena magnificarmos a conquista e manutenção de posições num sistema tão carcomido e tão dependente do (portanto, tutelado pelo) poder econômico?

Depois de quase 12 anos de governos petistas, quanto a revolução brasileira avançou? Nem um milímetro. Algumas benesses foram distribuídas aos mais pobres, algumas conquistas sociais podem ser exibidas, mas, no que realmente conta, o grande capital continua dominando a sociedade e avassalando-a aos seus interesses. Esta é a verdade nua e crua.
O saudoso Plínio colocou o dedo na ferida

Então, eu acredito que seria preferível a esquerda encarar a política oficial apenas como tribuna para amplificar suas denúncias e oportunidade para a acumulação de forças, sem sujar as mãos no afã de ganhar eleições ou no sentido de garantir a aprovação de seus projetos.

É o que, com sua profundidade característica, escreveu o grande Plínio de Arruda Sampaio (para acessar o artigo completo, clique aqui): 
"O capitalismo real, tal como existe no Brasil era do imperialismo total, é incompatível com a democracia e a soberania nacional. A burguesia brasileira depende do imperialismo e sobrevive às custas de reprodução permanente de mecanismos de acumulação primitiva que perpetuam a superexploração do trabalho. Nessas condições, o espaço para mudanças dentro da ordem é praticamente nulo. 
A 'democracia real', tal como ela existe no Brasil, não abre espaço para transformação social. Ela funciona como mero ritual eleitoral que operacionaliza a alternância no poder entre as diferentes facções da burguesia, dando um verniz de legitimidade a um padrão de dominação que é, na sua essência, profunda e intrinsecamente antidemocrático.  Para sair do impasse em que se encontra, o movimento social terá de radicalizar a crítica ao capitalismo e redefinir o modo de conceber a complexa dialética entre reforma e revolução".
Então, acrescento eu, inexistindo espaço para mudanças dentro da ordem, cabe-nos priorizar nosso maior (verdadeiramente único) patrimônio: a capacidade de inspiramos esperança ao povo. Se nos deixarmos desmoralizar, incidindo nas maracutaias praticadas "sem nenhuma exceção" pelos partidos convencionais, o povo não acreditará em nós nem nos acompanhará quando formos "radicalizar a crítica ao capitalismo", único caminho para transformarmos verdadeiramente a sociedade. 

É simples assim.

AS PERSPECTIVAS DEPOIS DO VENDAVAL

Até quando se manipularão eleições?
Engraçado, mesmo os mais prejudicados com o vazamento do que Paulo Roberto Costa teria declarado à Polícia Federal estão discutindo e rebatendo as informações imprecisas que a imprensa publica, ao invés de adotarem a única posição correta num caso desses: exigirem que as autoridades apurem as ilicitudes mediante as quais um depoimento resguardado por segredo de Justiça inundou o noticiário, negando-se a comentar acusações das quais nenhum deles tomou conhecimento por vias confiáveis (as possibilidades de manipulação saltam aos olhos!).

É lamentável que uma prática que infringe a lei tenha se tornado habitual e não seja contestada sequer por suas vítimas. Estas raciocinam da seguinte maneira: "Se eu não refutar a(s) acusação(ões), os eleitores vão concluir que é tudo verdade. Então, tenho de dizer qualquer coisa". E, com isto, coonestam essas armações ilimitadas da veja & cia.

Há muita disparidade entre o que cada veículo importante coloca na boca do diretor da Petrobrás, tipo quantos e quem ele teria dedado, qual a gravidade das imputações em cada caso, etc. Manifestar-se no escuro é pedir para falar bobagem e depois cair no ridículo. Nossos políticos são uns pobres diabos, firmes como geléia. 

De algo, contudo, podemos ter certeza: Costa está depondo e as tais 42 horas de gravação existem. Como as coisas chegaram a este ponto?

Minha impressão é de que os petistas, para garantirem a malfadada governabilidade da maneira mais fácil (poderiam, ao invés de comprarem apoios, afrontarem corajosamente a tradicional podridão da política brasileira, pois é isto que o povo deles esperava), servem-se de personagens escusos, que intimamente desprezam, como Marcos Valério e Costa. 
Na recessão anunciada,  convirá termos um pai dos pobres...

Quando a m... fede, tratam de salvar os seus, aqueles que se emporcalharam pela causa, e deixam que os movidos pela ganância se danem.

Evidentemente, os comparsas desprezados não apreciam ser tratados desta forma. Valério refugou demais e deixou passar o momento exato de obter favores da Justiça em troca de dar o serviço. Costa percebeu que seria igualmente abandonado à própria sorte (talvez seja melhor dizer azar, pois o esperava uma cana braba!), então não hesitou: vendeu sua mercadoria no momento em que havia mais compradores interessados. Nada bobo.

Mesmo que o escândalo respingue um pouco no falecido Eduardo Campos e no PSB, é insuficiente para derrubar Marina Silva, a menos que surja alguma acusação específica contra ela. Já Dilma Rousseff, evidentemente próxima do escândalo (chegou a ser ministra das Minas e Energia, continuou sempre interessada nos assuntos da Petrobrás e presidiu seu Conselho de Administração) vai ser alvejada a torto e a direito, provável pá de cal numa candidatura já combalida.

Torço para que os grãos petistas enxerguem o óbvio: insistirem com Dilma será suicídio, enquanto que o carisma de Lula poderá, talvez, evitar a derrota anunciada. Ou convencem a criatura a renunciar para o criador assumir e tentar salvar a pátria, ou podem começar desde já a empacotar os pertences, pois tudo leva a crer que o Palácio do Planalto estará sob nova direção a partir de janeiro.
...ou uma santa dos seringueiros inspirando o povo.

Ignoro se o Lula quererá mesmo estar à frente do governo, responsabilizando-se por decisões impopulares, durante a aguda crise econômica que despencará sobre nós em 2015 e sabe-se lá até quando vai durar. Mas, para a democracia brasileira, será melhor se o PT tentar a sorte com o que tem de melhor. Aí saberemos inequivocamente se o povo ainda quer Lula, ou está preferindo trilhar um novo caminho; se é o PT que está sendo repudiado, ou apenas Dilma. 

Para pilotar a nave Brasil durante os tempos bicudos da recessão, precisaremos de um comandante que seja capaz de inspirar as massas, mantendo viva a esperança em dias melhores: ou o Lula pai dos pobres voltando nos braços do povo, ou a santa Marina dos seringueiros (sem a sombra do Lula, pois o teria derrotado na eleição). Daí meus sinceros votos de que o tira-teima entre os únicos ícones restantes aconteça no mês que vem.

Não consigo imaginar uma Dilma Rousseff ou um Aécio neves pedindo aos brasileiros "sangue, suor, trabalho e lágrimas", sem provocar uma explosão de gargalhadas ou uma enxurrada de palavrões.

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