Fui ativista estudantil (1967/68). Militante clandestino (1969/70). Preso político (1970/71). Tenho travado o bom combate, lutando por um Brasil mais justo, defendendo os direitos humanos, combatendo o autoritarismo.

Sou jornalista desde 1972. Crítico de música e de cinema. Cronista. Poeta. Escritor. Blogueiro.

Tentei e não consegui eleger-me vereador em São Paulo. Mas, orgulho-me de ter feito uma campanha fiel aos objetivos nortearam toda a minha vida adulta: a construção de uma sociedade igualitária e livre, tendo como prioridades máximas o bem comum e a felicidade dos seres humanos.

Em que a exploração do homem pelo homem seja substituída pela cooperação solidária do homem com os outros homens. Em que sejam finalmente concretizados os ideais mais generosos e nobres que a humanidade vem acalentando através dos tempos: justiça social e liberdade.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

CUSTOU-NOS MUITA LUTA TERMOS LIBERDADE DE EXPRESSÃO. VAMOS PERMITIR QUE QUALQUER FACEBOOK A PISOTEIE?

Mensagem do Facebook lembra a tesoura da ditadura 
confesso que estava passando batido pelo problema da censura no Facebook até que ela me atingiu, no último domingo, 26. 

Como sempre faço, tentei comunicar que publicara no meu blogue um novo artigo. Mas, fui impedido: 
"essa mensagem possui conteúdo bloqueado: Sua mensagem não pode ser enviada pois ela tem conteúdo que outras pessoas no Facebook denunciaram como abusivo".
Como abominava a censura da ditadura militar --cheguei a responder a um processo estapafúrdio no Fórum João Mendes, que não deu em nada mas obrigou-me a comparecer umas quatro vezes, convocado para as 13h e tendo de ficar mofando naquele ambiente desagradável cerca de quatro horas até começar a audiência que me dizia respeito-- desde a redemocratização denuncio veementemente qualquer veto, boicote ou emasculação dos meus textos. 

Foi o que imediatamente fiz. Inclusive, tentei postar no próprio Facebook a minha catilinária contra a censura do Facebook... e consegui. Aí, repeti a tentativa de divulgar o artigo político e constatei que continuava embargado. Ou seja, tratava-se de algum tipo de gatilho automático, que dispara apenas quando existe tal ou qual palavra no texto. 

Pesquisando no Google, constatei que, durante a onda de manifestações de rua contra a Copa do Mundo, a meninada se queixava de que acontecia exatamente o mesmo quando suas mensagens citavam "Exército", "Forças Armadas", "Guarda Nacional".  


Já o amigo jornalista Rui Martins levantou a possibilidade de que a censura tivesse ocorrido a partir de um uso desvirtuado do ícone no qual os usuários do Facebook podem clicar para denunciarem conteúdo pornográfico.


Como a empresa não dá satisfações, somos obrigados a ficar no terreno das hipóteses.  E, claro, indagando-nos se uma companhia ponto.com dos Estados Unidos tem o direito de, atuando em nosso país, ignorar o que reza a Constituição da República Federativa do Brasil:

"Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei" (art. 5, § 2º)
"É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença" (art. 5, § 9º)
"A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição" (art. 220)
"É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística" (art. 220, § 2º)
E não age às escondidas. Já nos padrões de sua comunidade, deixou claro que faria exatamente o que está fazendo:

"As pessoas usam o Facebook para compartilhar suas experiências e conscientizar os outros sobre assuntos que consideram importantes. Isso significa que você pode encontrar opiniões diferentes das suas, o que acreditamos que possa gerar conversas importantes sobre temas complexos. No entanto, para equilibrar as necessidades, a segurança e os interesses de uma comunidade diversificada, temos que remover determinados tipos de conteúdos controversos ou limitar o público que os visualiza [o grifo é meu]".
Esta postura está coerente com o enfoque jurídico dos EUA. Lá, apenas os governos federal, estaduais e municipais são obrigados a respeitar escrupulosamente a liberdade de expressão. Organizações particulares podem, a bel prazer, impugnarem conteúdos  que a empresa não deseje veicular.

É isto que queremos para o Brasil? Caso contrário, por que permitimos que brasileiros estejam sendo submetidos a tais restrições?


domingo, 26 de julho de 2015

SAIBA QUE MEUS ARTIGOS ESTÃO SOB CENSURA PRÉVIA NO FACEBOOK E CONHEÇA O 1º A SER BLOQUEADO

OS TORQUEMADAS QUEREM MEUS ARTIGOS FORA DO FACEBOOK

Não sou de ficar anunciando de 10 em 10 minutos os meus artigos no Facebook e no Twitter, como vejo muitos fazerem. Posto-os apenas uma vez, pois detesto esses artifícios típicos da propaganda, "quanto mais aparecerem, maior a chance de serem notados", etc.

Mesmo assim, há internautas com índole totalitária tentando fazer com que não apareçam sequer uma vez. Ao anunciar meu artigo deste domingo (26), fui impedido: 
"essa mensagem possui conteúdo bloqueado: Sua mensagem não pode ser enviada pois ela tem conteúdo que outras pessoas no Facebook denunciaram como abusivo".
Os mesmos que vira-e-mexe tiram o meu blogue do ar, fazendo-me perder uns 15 minutos para reativá-lo, agora empenham-se em excluí-lo do Facebook. Direitistas ou governistas dá no mesmo, têm alma de censores.

E do tipo fanáticos, como os do Santo Ofício, não meros tarefeiros na linha da dª Solange da ditadura militar.

Quanto ao Facebook, é moderninho por fora e medieval por dentro. Quer dizer que qualquer ação concertada de inimigos políticos é suficiente para tirar-se um articulista do ar, sem comunicação prévia nem chance nenhuma para apresentar defesa?!

Torquemada vive.

Obs. Por curiosidade, tentei divulgar esta denúncia e o Facebook a aceitou. Tentei novamente anunciar o artigo político e constatei que continua embargado. Ou seja, trata-se de um bloqueio automático, que é ativado quando existe tal ou qual palavra no texto. Qualquer semelhança com a burrice da censura dos milicos não é mera coincidência.

SE PLANTAR MAIS DO MESMO, DILMA COLHERÁ MAIS DO MESMO.

Continuam viajando na maionese Dilma Rousseff e a ala chapa-branca do PT (aquela que não dá a mínima para as bandeiras históricas do partido e adere até ao neoliberalismo quando isto lhe convém).

A presidenta vinha evitando aparições na TV com dia e hora marcados, para que os adversários não convocassem humilhantes panelaços. Mudou de idéia e dará a luz de sua (des)graça no próximo programa do PT, que vai ao ar no dia 6, em rede nacional. Alguém dúvida de que os opositores articularão, nas redes sociais, o panelaço mais barulhento de quantos houve até agora?

Ela decidiu também que procurará cativar os governadores e líderes da oposição, no sentido de que abracem a causa da governabilidade e orientem suas bancadas a não abrirem mais rombos na canoa furada do ajuste do Levy. 

Haverá muita discurseira engana-trouxas e, noves fora, os parlamentares vão continuar defendendo apenas seus interesses, não os do povo ou do País. Dilma dá a impressão de que ainda crê em Papai Noel e coelhinho da Páscoa...

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos alvos da ofensiva dilmista e lulista, já disse que "o momento não é para a busca de aproximações com o governo, mas sim com o povo". Raposa velha não atira boias para inimigo que está afundando.

Enfim, o PT continua acreditando que atingiu seu pior momento em 35 anos de existência por causa da superexposição dos escândalos de corrupção na grande mídia (adversa como sempre!), de erros na forma de comunicar-se e de não haver sido suficientemente persuasivo na cooptação dos rivais. 

Enquanto insistir na auto-ilusão, seguirá em direção ao abismo. A direita golpista, começando pelo Reinaldo Azevedo, exultou com a notícia de que a Dilma sairá da sua reclusão para receber mais tortas na cara. Com sua teimosia em considerar correto e imutável tudo que fez até agora, ela não para de levantar bolas para o time adversário marcar pontos.

Vou repetir mais uma vez, talvez alguém a bordo do Titanic finalmente me escute: o iceberg que afundará o governo atende pelo nome de recessão. E recessão é o pseudônimo do Joaquim Levy. Enquanto o cidadão comum sentir-se empobrecendo dia a dia, rejeitará Dilma e o PT na mesmíssima proporção. 

Então, não adianta querer sair do buraco com mais do mesmo, pois o resultado será... mais da mesma rejeição estratosférica atual. 

Para salvar-se, Dilma terá de devolver o Levy à sua insignificância, anunciar uma guinada de 180º na política econômica e tentar reconquistar o apoio popular. 

Se depender dos banqueiros, dos ruralistas, dos grandes capitalistas em geral, das parlamentares, etc., ela não iniciará 2016 no Palácio do Planalto. Se cair nos braços do povo (como o Lula já recomendou), talvez escape da degola.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

EDITORAL DA "FOLHA" EXPRESSA A FÚRIA DOS PODEROSOS FACE AO FRACASSO DO ARROCHO FISCAL

Os editoriais da Folha de S. Paulo não cheiram nenhum perfume que agrade ao olfato dos melhores seres humanos; nem, na maioria das vezes, fedem. Ficam mais nas obviedades e platitudes, no nem sim, nem não, muito pelo contrário...

São raros os contundentes como o provável campeão de rejeição em todos os tempos --aquele  que, baixando o cassete em Hugo Chávez, en passant minimizou o terrorismo de estado imposto ao Brasil pelos golpistas de 1964, qualificando-o de ditabranda.

Então, chama a atenção o tom exacerbado, cuspindo fogo, que a Folha adotou nesta 6ª feira (24) para deplorar o malogro do arrocho fiscal do Joaquim Levy:
"O Brasil está à deriva num mar tempestuoso. O lamentável desfecho do debate acerca das contas públicas acentuou a sensação de que ninguém controla o leme desse gigantesco transatlântico.
Acho que entendi errado aquelas teses do Friedman
Reduzir a meta de economia de gastos em 2015 foi o menor dos males, pois já estava clara a impossibilidade de o setor público destinar R$ 66,3 bilhões para abater a dívida ao final deste ano de aguda recessão. A magnitude da revisão e sobretudo o modo como se desenrolou é que recendem a capitulação.
O novo objetivo [saldo positivo de R$ 8,7 bilhões] já surge com uma cláusula que perdoa seu descumprimento e admite deficit de até R$ 17,7 bilhões.
Premia-se a irresponsabilidade do Congresso...
 ...à exceção do Ministério da Fazenda, os atores institucionais relevantes para a condução da política econômica se sentem livres para boicotar o ajuste.
...Perfilam-se entre os sabotadores os líderes do Congresso e do Judiciário, o ministro da Casa Civil, o titular do Planejamento e a própria presidente da República, cuja inépcia se ressalta a cada decisão importante que tem a tomar...
...Se quiser recuperar a confiança maculada, Dilma Rousseff precisa decidir-se sobre o rumo a seguir e agir resolutamente. Chega de sustentar uma equipe desarmônica de ministros. Aos sabotadores a mensagem deve ser clara: ou submetem-se ou deixam o governo".
Ou seja, a Folha apresenta o ministro da Fazenda como uma Chapeuzinho Vermelho cercada de lobos por todos os lados. Nem uma palavra a respeito de sua falta de estatura para o cargo: Levy não passa de um economista menor, sem brilho acadêmico, que atuou quase sempre em governos e, como mero coadjuvante, em instituições como o FMI e o Banco Central Europeu, nelas aprendendo a priorizar invariavelmente os interesses do capital financeiro, em detrimento da felicidade e até da sobrevivência dos seres humanos. 

Mesmo no Bradesco (cujo diretor-presidente, Luiz Carlos Trabuco, indicou-o para Dilma após recusar a proposta de ele próprio assumir a Pasta) só servia para cuidar da gestão de ativos de terceiros, um tentáculo menor do polvo.

Tem as simpatias da direita em geral por ser um neoliberal de corpo e alma, mas inspira desconfiança no chamado mercado por ter um currículo meia-boca. Se era para impor aqui uma política de austeridade igualzinha àquela que tem desgraçado nações como a Grécia, por que a Dilma não chamou logo o Delfim Netto? Seus valores ideológicos são tão execráveis quanto os do Levy, mas possui a expertise que falta ao patético e (agora) fracassado Chicago (office) boy...

Querer ficar bem com a direita...
O fiasco era a chamada caçapa cantada, não só pela resistência dos que se beneficiam do loteamento do Estado e mamam nas suas tetas, mas também por um motivo que venho  apontando desde a campanha: a política econômica que os poderosos exigiam (essa que está aí) JAMAIS poderia ser implantada pelo PT, que a vinha rechaçando veementemente desde seus longínquos primórdios, na segunda metade da década de 1970, quando Lula liderava as grandes greves do ABC paulista. Não se pode pisar num passado destes, destruindo a própria identidade do petismo.

O PT poderia, simplesmente, haver disputado a eleição de forma leal, sem desconstruir Marina Silva com uma satanização de fazer inveja a Joseph Goebbels. Provavelmente perderia, deixando para sua filha pródiga a espinhosa tarefa de mergulhar o País numa recessão para fazer a vontade dos grandes capitalistas.

Ou ter, uma vez reeleita Dilma, feito exatamente o que prometera: não se vergar aos bancos e ao patronato em geral. Os austericídios já consumados são provas eloquentes de que o emagrecimento forçado proposto por Friedman e imposto por Thatcher, Reagan, Pinochet, Merkel, etc., NÃO FUNCIONA!!! Leva as nações à anorexia, mandando-as para a UTI. 

...e com a esquerda não funciona mais, portanto...
Já passou da hora de os países imolados no altar do capital começarem a unir-se para reagirem, e o Brasil poderia desempenhar um papel de destaque num processo desses. Isto, sim, seria coerente com o que o partido proclamou no seu manifesto de fundação: 
"O PT nasce da decisão dos explorados de lutar contra um sistema econômico e político que não pode resolver os seus problemas, pois só existe para beneficiar uma minoria de privilegiados".
O que o PT jamais poderia é ter adotado uma retórica de esquerda para salvar (na bacia das almas) uma eleição praticamente perdida e depois aplicar a política econômica da direita mais impiedosa. É POR ISTO QUE NÃO CONSEGUE CONTROLAR O LEME DO TAL TRANSATLÂNTICO E A REJEIÇÃO A DILMA HOJE ALCANÇA NÍVEIS ESTRATOSFÉRICOS!

A melhor saída para o buraco em que se meteu será voltar a ser fiel aos seus ideais:
  • exonerando Levy e outros estranhos no ninho como Kátia Abreu e George Hilton;
  • dando uma guinada de 180º na política econômica; e 
...chegou a hora de escolher um lado.
  • retirando a coordenação política das mãos fisiológicas de Michel Temer (Lula é o ÚNICO quadro de que o PT dispõe para exercer tal papel num momento crítico como o atual). 
Desta forma, ou viraria o jogo ou, pelo menos, perderia por razões defensáveis e posicionado do lado certo, o dos explorados. 

sexta-feira, 17 de julho de 2015

O MURO CAIU, CHÁVEZ MORREU, OS EUA REATARAM COM CUBA... E DAÍ? MAIS E MELHORES REVOLUÇÕES VIRÃO!

Obama e Raúl: uma imagem vale por mil palavras.
Os Estados Unidos e Cuba voltam, aos poucos, a manter um relacionamento civilizado. A invasão da Baía dos Porcos, a crise dos mísseis e o embargo econômico parecem episódios definitivamente superados, marcos daquele passado sombrio que Winston Churchill, batizou com um nome agourento: guerra fria.

Como será o novo modus vivendi entre o colosso do Norte e a ilha vizinha? Cansei de ouvir os inimigos da revolução profetizarem que um dia Cuba voltaria a ser um balneário, cassino e bordel de luxo para estadunidenses ricos. Logo saberemos.

Certa vez, referindo-se às reformas liberalizantes em Cuba e ao evento mais emblemático do fracasso do chamado socialismo real, o veterano jornalista Clóvis Rossi gracejou:
"Na hora em que a esquerda continua sob os escombros do Muro de Berlim, começa a cair mais um muro. Talvez seja a hora de construir algo com tantos tijolos"
Concordo plenamente. Mas, para fazermos um projeto melhor do que aqueles que o vento da História levou, precisamos ter clareza quanto aos erros cometidos no passado.

A REVOLUÇÃO DETURPADA

"...um tirano substitui o Comitê Central..."
Já faz quase um século que os movimentos revolucionários desviaram por atalho que acabou conduzindo a um beco sem saída.

O desvio foi decidido às vésperas da revolução soviética, quando o Partido Bolchevique discutiu dramaticamente se valia a pena tomar-se o poder num país atrasado, contrariando duas premissas marxistas: a da revolução internacional e a da construção do socialismo a partir das nações economicamente mais pujantes (e não o contrário!).

Prevaleceu o argumento de que, embora a Rússia não estivesse pronta para o socialismo, serviria como um estopim da revolução mundial, começando pela revolução alemã, prevista para questão de meses. Então, o atraso econômico russo seria contrabalançado pela prosperidade alemã; juntas, efetuariam uma transição mais suave para o socialismo.

Deu tudo errado. A reação venceu na Alemanha, a nova república soviética ficou isolada e, após rechaçar bravamente as tropas estrangeiras que tentaram restabelecer o regime antigo, viu-se obrigada a erguer uma economia moderna a partir do nada.

Quando o ardor revolucionário das massas arrefeceu -- não dura indefinidamente, em meio à penúria --, a mobilização de esforços para superação do atraso econômico acabou se dando por meio da ditadura e do culto à personalidade.
 A distopia autoritária ruiu em 1989

A Alemanha nazista era o espantalho que impunha urgência: mais dia, menos dia haveria o grande confronto e a URSS precisava estar preparada. O stalinismo foi engendrado em circunstâncias dramáticas.

A república soviética acabou salvando o mundo do nazismo -- foi ela que quebrou as pernas de Hitler, sem dúvida! --, mas perdeu sua alma: já não eram os trabalhadores que estavam no poder, mas sim uma odiosa  nomenklatura.

Concretizara-se a profecia sinistra de Trotsky: primeiro, o partido substitui o proletariado; depois, o Comitê Central substitui o partido; finalmente, um tirano substitui o Comitê Central.

Com uma ou outra nuance, foi este o destino das revoluções que tentaram edificar o  socialismo num só país: ficaram isoladas, tornaram-se autoritárias e não tiveram pujança econômica para competir com o mundo capitalista, acabando por sucumbir ou por se tornarem modelos híbridos (como o chinês, que mescla capitalismo na economia com stalinismo na política).

E AGORA, JOSÉ?

Agora, só nos resta voltarmos ao princípio de tudo: Marx.
Só unidos e solidários os homens sobreviverão, pois...

Reassumirmos a tarefa de engendrar  uma onda revolucionária que varrerá o mundo.

Esquecermos a heresia de solapar o capitalismo a partir dos seus elos mais fracos, pois o velho barbudo estava certíssimo: as nações economicamente mais poderosas é que determinam a direção para a qual as demais seguirão, e não o contrário.

Isto, claro, se tivermos como meta a condução da humanidade a um estágio superior de civilização. Pois o cerco das nações prósperas pelos rústicos e atrasados já vingou uma vez, quando Roma sucumbiu aos bárbaros... e o resultado foi um milênio de trevas.

Se, pelo contrário, quisermos cumprir as promessas originais do marxismo, as condições hoje são bem propícias do que um século atrás:
  • o capitalismo já cumpriu seu papel histórico no desenvolvimento das forças produtivas e está tendo sobrevida cada vez mais parasitária, perniciosa e destrutiva -- tanto que mantém a parcela pobre da humanidade sob o jugo da necessidade quando já estão criadas todas as premissas para o  reino da liberdade, e o 1º mundo sob o jugo da competitividade obsessiva, estressante e neurótica, quando já estão criadas todas as premissas para uma existência fraternal, harmoniosa e criativa;
...as catástrofes ambientais vão se tornar frequentes.
  • os meios de comunicação que ele desenvolveu, como a internet, facilitam a disseminação e coordenação dos movimentos revolucionários em escala mundial, de forma que um novo 1968, p. ex., hoje seria muito mais abrangente (está longe de ser utópica, agora, a possibilidade de uma onda revolucionária varrer o mundo);
  • a necessidade de adotarmos como prioridade máxima a colaboração dos homens para promover o bem comum, em lugar da ganância e da busca de diferenciação e privilégio, será dramatizada pelas consequências das alterações climáticas e da má gestão dos recursos imprescindíveis à vida humana, gerando crises tão agudas que só unidos e solidários eles conseguirão sobreviver.
Nem preciso dizer que a forte componente libertária original do marxismo tem de ser reassumida, pois os melhores seres humanos, aqueles dos quais precisamos, jamais nos acompanharão de outra forma (esta é uma das conclusões mais óbvias a serem tiradas dos acontecimentos das últimas décadas).

A bandeira da liberdade deve ser empunhada de novo pelos que realmente a podem concretizar, não pelos que só têm a oferecer um cativeiro com as grades introjetadas, pois a indústria cultural as martela dia e noite na cabeça dos  videotas.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

A REPÚBLICA SE ESFARELA

O mandato da presidenta Dilma Rousseff está por um fio porque ela conduziu o País à pior crise econômica desde a hiperinflação do Sarney, está tentando sair do sufoco mediante um receituário ortodoxo que prometera não adotar e, depois de trair a palavra empenhada e as pregações contra o neoliberalismo que o PT martelava há décadas, nem sequer vem obtendo sucesso. Até porque escolheu para executar o arrocho fiscal um economista insignificante e incompetente, o Chicago (office) boy Joaquim Levy.

Tudo isso se refletiu numa queda vertiginosa da popularidade de Dilma, hoje na casa de 9%. Se estivéssemos no parlamentarismo, um voto de desconfiança já a teria derrubado. E se fosse maior do que é, renunciaria antes de arrastar os brasileiros ao fundo do poço e tornar a imagem da esquerda totalmente execrável para o cidadão comum.

Pelo contrário, vocifera que não largará o osso de jeito nenhum. Eu não vou cair! Não vou! Não vou!

O estilo diz tudo: Getúlio Vargas lançou um desafio altaneiro ("Só morto sairei do Catete"), Dilma mais parece criança manhosa. 

E, sem ideia nenhuma de como sair do labirinto em que se meteu e voltar a ter o respaldo das ruas, seu pensamento fixo é evitar que o processo do impedimento seja instaurado contra si.

Já desistiu de desatar o nó, só não o quer em volta do seu pescoço. Sabe que, fragilizada  e pessimamente avaliada como está, uma vez colocado nos trilhos o trem do impeachment, poucos parlamentares se disporão a frustrar o eleitorado, arriscando o próprio futuro político.

A obstinação cega de Dilma em permanecer no cargo a qualquer preço e dos oposicionistas em derrubá-la a qualquer preço vem produzindo um cenário político próximo da insanidade. A república está se esfarelando.

E, depois de comermos o pão que o diabo amassou para darmos um fim ao arbítrio, o aprendizado democrático que oferecemos às novas gerações é desalentador, bem do tipo cria cuervos.  Nada de alvissareiro prenuncia.

A arena em que os gladiadores se digladiam é a da investigação das roubalheiras. As duas facções exercem terríveis pressões de bastidores, uma para envolver Eduardo Cunha e Renan Calheiros, a outra para comprometer Dilma e Lula. É a política degradada a uma guerra de tortas de lama.

Como consequência, o relacionamento entre Executivo e Legislativo está chegando ao ponto de ebulição. E o Judiciário se faz de morto o melhor que pode. 

Enquanto os poderosos brigam, os coitadezas que se danem! Se a recessão atual evoluir para depressão, azar! O que importa é o poder, só o poder, nada mais que o poder.

É a versão brasileira da marcha da insensatez. E até agora não se vislumbra sequer uma réstia de luz no fim do túnel. 

Entre a desmobilização das férias escolares de julho e a dos festejos natalinos, teremos quatro meses que se anteveem quentes e decisivos. O impasse atual precisa chegar a algum desfecho, para o Brasil não estagnar de vez, nem entrar numa espiral de turbulência. E, se continuar inexistindo um mínimo de grandeza política por parte das facções em conflito, tal desfecho não unirá o País.

O ideal seria não haver vencedores e derrotados, facilitando a reconstrução e não deixando engatilhadas novas disputas autofágicas. Mas, para isto precisaríamos de atores políticos de primeira grandeza. Não os temos, infelizmente.

terça-feira, 7 de julho de 2015

QUANDO E COMO DILMA CAIRÁ?

A queda é só questão de tempo
Em abril de 1969, quando eu não passava de um jovem de 18 anos que lera alguns clássicos marxistas mas estava muito longe de saber discernir para onde os acontecimentos políticos se encaminhavam, participei como convidado do Congresso da Vanguarda Popular Revolucionária em Mongaguá (SP), representando meu grupo de oito secundaristas dispostos a ingressar na organização. 

Na volta, já como integrante da VPR, fui surpreendido com a designação para criar e comandar um setor de Inteligência, absoluta novidade nos agrupamentos de esquerda e incumbência para a qual nada na vida me preparara. 

Mas, com o entusiasmo característico da idade, mergulhei fundo nas minhas tarefas, inclusive a de, acompanhando o que saía na imprensa e complementando-o com as notícias censuradas e informações de bastidores que aliados jornalistas nos transmitiam, projetar cenários futuros. Com várias facções disputando o poder, era importantíssimo sabermos qual a correlação de forças no seio da ditadura, desdobramentos possíveis e consequências práticas (abrandamento ou radicalização, p. ex.). 

Nossa luta foi esmagada, mas o hábito ficou, até porque também tem muita serventia no ofício de jornalista. Passei o resto da vida me aprofundando na interpretação dos cenários futuros, e quem acompanha meu trabalho sabe que geralmente acerto; como quando alertei que seria a maior roubada a Presidência da República caber a alguém de esquerda quando, por imposição dos poderosos do capitalismo, o governo seria obrigado a executar um ajuste fiscal de cunho neoliberal. Não deu outra, o PT está sendo destruído em função disto, muito mais do que pelos escândalos de corrupção.

Então, os amigos agora me perguntam, preocupados, como e quando será o desfecho da crise brasileira.
Os abutres já se preparam para o ataque final

Eu diria que a possibilidade de começarmos 2016 com a Dilma na Presidência é muito pequena, quase nenhuma, pois a sua rejeição advém, principalmente: 
  • da recessão que fustiga o povo brasileiro, empobrecendo-o e fazendo dispararem os índices de desemprego; e
  • do estelionato eleitoral, pois já caiu até para o povão a ficha de que a Dilma a todos iludiu quando prometeu não impor os rigores que a Marina Silva e o Aécio Neves imporiam. 
Gritou "lobos!", os crédulos engoliram, só que ela também era loba. E propaganda enganosa costuma ter efeito bumerangue, ainda que retardado...

O pior é que, em curto e médio prazos, a penúria só tende a aumentar; e a impopularidade presidencial, idem. Por causa deste sentimento hostil, as acusações da Operação Lava Jato causarão estrago cada vez maior, devendo finalmente desembocar num processo de impeachment. 

Na hora da onça beber água, duvido que haja um terço de deputados federais ou de senadores dispostos a contrariar os humores do eleitorado defendendo o mandato de uma presidenta tão mal avaliada nas pesquisas de opinião. Fisiológica como sempre, a maioria votará de olho no próprio futuro político.

Resta à Dilma a opção de não conceder tal triunfo apoteótico à direita, renunciando enquanto é tempo. Depois que se evidenciar para o cidadão comum que seu impedimento é inevitável, tal ato perderá muito em termos de valor simbólico. Se quiser salvar um pouco de sua imagem, tem de renunciar antes que a corda esteja apertando-lhe o pescoço.
É hora de pensarmos no que faremos depois

Um bônus imediato seria o esfriamento da campanha adversa de mídia, com a Operação Lava Jato deixando de ser trombeteada dia e noite. Há muito de artificial nesta ênfase desmedida.

E a maior vantagem: jogar toda a encrenca para o campo inimigo. Com o PT fora do Palácio do Planalto, é quase certo que caberá ao PSDB e ao PMDB administrarem a massa falida. Não será fácil nem rapidamente que reerguerão a economia brasileira, tendo, portanto, de assumir por bom tempo o desagradável papel de vidraça, enquanto os petistas começarão a emergir do fundo do poço ao voltarem a ser estilingues.

Enfim, a escolha real que restou ao PT é a da hora de sair: pode fazer bom negócio se curvar-se à evidência dos fatos, mas afundará muito mais se teimar em ir contra uma maré já irresistível.

Quanto ao timing, eu chutaria que a direita continuará acumulando forças ao longo deste mês, pois o período é de férias escolares e consequente desmobilização das pessoas; e que botará seu bloco na rua, com força total, a partir de agosto, havendo grande chance de que o de 2015 venha mesmo a ser um mês do cachorro louco, como o de 1961.

Uma data a ser temida é o 16 de agosto, domingo em que haverá novos protestos contra o governo em escala nacional. Tudo que a direita estará precisando é de defunto(s) útil(eis), para servirem como ingrediente emocional, cereja do bolo da comoção nacional que lhe convém criar (na linha, p. ex., da morte dos estudantes MMDC em maio de 1932). 

Se eu fosse o Lula, exortaria os militantes do PT, CUT, MST, MTST, etc., a ficarem bem longe da avenida Paulista e outros palcos das manifestações, para não correrem o risco de fazer o jogo do inimigo.

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quarta-feira, 1 de julho de 2015

¿POR QUÉ NO TE CALLAS, DILMA?

Quando não se tem nada aproveitável para dizer...
A presidenta Dilma Rousseff deveria mirar-se no exemplo do Marco Polo Del Nero e não sair tão cedo do seu canto.

Por motivo diferente, claro. Ao contrário do cúmplice de José Maria Marin, ela pode correr mundo  à vontade, sem o mínimo receio de prisão e extradição. Deste tipo de vexame a Dilma nos poupa.

Mas, cada vez que abre a boca no exterior, deixa morrendo de vergonha todos que a temos como presidenta da República.

Ora atribui seu novo recorde de impopularidade a um inverossímil preconceito sexual por parte dos brasileiros que há poucos meses a reelegemos. Não consta que, depois de outubro de 2014, tenha ocorrido em nosso país uma epidemia de machismo. Trata-se, tão somente, de uma saída pela tangente, uma desculpa de má pagadora.

E, se nem na Quadrada das Almas Perdidas uma lorota destas cola, muito menos na capital do Império. Os leitores do Washington Post, um dos jornais mais importantes do planeta, devem ter sentido pena de nós.

Ora Dilma faz um verdadeiro samba do crioulo doido por não levar em conta a regra de ouro de que roupa suja se lava em casa. Qualquer mandatário que se desse ao respeito e tivesse respeito pelo seu cargo não se manifestaria em solo estrangeiro sobre um assunto doméstico tão pobre e tão podre.

Primeiramente, porque é o partido no poder que está sendo duramente atingido por alcaguetagens dos seus parceiros de maracutaias, a ponto de tirar Dilma do sério. Então, a primeira coisa que ocorrerá a um estrangeiro dotado de espírito crítico, lendo a catilinária de Dilma contra o delator premiado da vez, é: como o tal Partido dos Trabalhadores foi envolver-se com uma ralé moral tão nauseabunda?!
...a regra de ouro é: em boca fechada, não entra mosca.

Se, além disto, tal cidadão conhecer o passado do PT, mais estupefato ainda ficará: pois não é que uma agremiação nascida das lutas contra o patronato está em parafuso por haver sido pilhada em conluio com um dos segmentos mais vorazes e inescrupulosos do empresariado, os empreiteiros de obras! Virou tudo de cabeça pra baixo?

É óbvio que as declarações de Dilma, dadas durante conversa com jornalistas em Nova York, se endereçavam ao público brasileiro; mas, eram a hora e o lugar errados para as fazer, porque, queira ela ou não, o que presidente da República fala em viagem internacional tende a ter repercussão também internacional. Por que não incumbir um porta-voz qualquer de dar tal recado cá no Brasil?

É claro que melhor mesmo teria sido ela, simplesmente, calar. Pois,  nada se aproveita desta mistura de alhos com bugalhos:
"Eu não respeito delator, Até porque eu estive presa na ditadura e sei o que é. Tentaram me transformar numa delatora. A ditadura fazia isso com as pessoas. Eu garanto para vocês que eu resisti bravamente".
O que tem a ver, afinal, uma militante que combateu uma ditadura bestial com um meliante categorizado da organização criminosa que assaltou o Estado em plena democracia? 

Como equiparar o ato de não ceder às bestas-feras que queriam barbarizar e executar os melhores brasileiros com o ato de não ajudar os agentes de um Estado de Direito a denunciarem e processarem os piores brasileiros?  
Daria para esperar outra coisa deste indivíduo?

Como uma ex-resistente se tornou tão desnorteada a ponto de ela própria se colocar no mesmo plano de um reles Ricardo Pessoa (ao afirmar que ele fez o que ela não aceitou fazer), como se fossem valores de mesma grandeza?

Como uma presidente da República se põe a deitar falação sobre investigações policiais e judiciais em curso (o que, claro, configura pressão indevida e absolutamente injustificável sobre outras esferas do Estado)? 

E, tendo tal forçação de barra pontos de contato com os disparates demagógicos de alguns articulistas e blogueiros chapa branca, é o caso de indagamos se ela estará insinuando  a existência de alguma semelhança entre os métodos da Polícia Federal e os do DOI-Codi, entre o juiz Sérgio Moro e os auditores militares.  Espero que não, pois aí já seria desespero de causa; e causas desesperadas, defendidas com tamanho desapreço pela verdade, estão de antemão fadadas à nocividade.

De resto, como ex-preso político que também sofri o diabo nos porões do regime militar, acrescento que a comparação de Dilma peca igualmente no aspecto de ser descabido ela afirmar que resistiu bravamente aos que queriam transformá-la numa delatora.

É preconceituoso e desumano qualificar de delatores aqueles de quem os torturadores arrancaram alguma informação; todos sabemos que a resistência humana tem limites, quem cultuava super-homens eram Nietzche e os nazistas (quanto à Dilma, deve sonhar toda noite com super-mulheres-sapiens...).. 

Os correspondentes aos delatores premiados de agora não eram os pobres torturados de outrora, mas sim os vis  cachorros da repressão --militantes que, aceitando propostas indecentes dos torturadores, passavam a trabalhar para eles, em troca da liberdade, de uma nova identidade e de um pagamento mensal. Ou seja, negociavam os detalhes da barganha, firmavam o pacto e então mudavam de lado, para receberem  favores e contrapartidas dos verdugos. Não porque fossem coagidos a tanto, mas simplesmente para encurtarem a permanência na prisão e levarem vida melhor fora dela.
Quem se deita com cães, amanhece com pulgas.

Se Dilma queria comparar o dono da construtora UTC com alguém, por que não fez o paralelo certo, equiparando-o aos ditos cachorros? Talvez porque assim a pertinência seria maior mas a dramaticidade, menor; a ambiguidade é que convinha a seu propósito de usar um nobre passado como escudo contra acusações (verdadeiras ou não) que lhe fazem no presente.

Muitos dos que optamos por travar o bom combate em circunstâncias tão extremas, arriscando a vida, a integridade física/psicológica e a segurança de nossos entes queridos, consideramos imensamente mais importante o que fizemos então do que qualquer coisa que façamos ou sejamos agora.

Mesmo para manter uma faixa presidencial sob a democracia burguesa, não utilizaríamos como trunfo retórico nem faríamos chantagem emocional a partir de uma luta que para nós foi sagrada. Até porque nós, os sobreviventes do morticínio, temos a obrigação de honrar o sacrifício dos companheiros que não estão mais conosco.

É pena que a Dilma não seja mais como nós nem pense mais desta maneira. Sua imagem histórica como presidenta não tem conserto e temo que a permanência no cargo, doravante, nada lhe trará de gratificante. Fez as apostas erradas e perdeu; enquanto permanecer na mesa, será para padecer em agonia lenta.

Deveria encarar seu passado revolucionário como o maior patrimônio que lhe restou, a melhor lembrança que deixará para os pósteros. Dilma presidenta foi um equívoco, mas Wanda guerrilheira merecerá eternamente o respeito e a gratidão do povo brasileiro.

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