Fui ativista estudantil (1967/68). Militante clandestino (1969/70). Preso político (1970/71). Tenho travado o bom combate, lutando por um Brasil mais justo, defendendo os direitos humanos, combatendo o autoritarismo.

Sou jornalista desde 1972. Crítico de música e de cinema. Cronista. Poeta. Escritor. Blogueiro.

Tentei e não consegui eleger-me vereador em São Paulo. Mas, orgulho-me de ter feito uma campanha fiel aos objetivos nortearam toda a minha vida adulta: a construção de uma sociedade igualitária e livre, tendo como prioridades máximas o bem comum e a felicidade dos seres humanos.

Em que a exploração do homem pelo homem seja substituída pela cooperação solidária do homem com os outros homens. Em que sejam finalmente concretizados os ideais mais generosos e nobres que a humanidade vem acalentando através dos tempos: justiça social e liberdade.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

AMEAÇAM-ME COM PROCESSO; OS LEITORES QUE ME JULGUEM.

NUM E-MAIL CURIOSAMENTE INTITULADO "ADAIL IVAN vs CELSO LUNGARETTI", O CIDADÃO ADAIL IVAN DE LEMOS, QUE ASSINA-SE "DOUTOR" E ME TRATA COMO "SENHOR", AMEAÇA-ME COM PROCESSO JUDICIAL POR HAVER RESPONDIDO DE FORMA MODERADA ÀS MENÇÕES ALTAMENTE OFENSIVAS QUE FEZ AO MEU PASSADO MILITANTE NO LIVRO "DESAFIA O NOSSO PEITO", SEM HAVER-ME CONTATADO PARA OUVIR O QUE EU TERIA A DIZER. 

COMO JAMAIS ME DEIXO INTIMIDAR, ESTOU PUBLICANDO TANTO A SUA AMEAÇA QUANTO O TEXTO A QUE ELA SE REFERE. DE QUEBRA, ACRESCENTO OUTRO ARTIGO QUE DEVE TER-LHE PASSADO DESPERCEBIDO, MAS ESCLARECE BEM O MEU POSICIONAMENTO NA QUESTÃO. 

FIEL AOS VALORES QUE NORTEARAM TODA A MINHA VIDA ADULTA, INVOCO O JULGAMENTO DOS LEITORES E DOS HISTORIADORES, POIS É O QUE DEVERIA IMPORTAR PARA QUEM SE PROPÔS  A TRANSFORMAR A SOCIEDADE. 

Senhor Lungaretti,

No seu blog Celso Lungaretti (O Rebate) o senhor postou indevidamente e ilicitamente acusações contra meu livro Desafia Nosso Peito cujo mérito ainda não foi julgado judicialmente. Portanto, a apresentação tendenciosa apresentada pelo seu “rebate” sem o devido direito de defesa implica em um julgamento precipitado e divulgação inidônea, injusta e caluniosa.

Ademais, o senhor usa uma nota do GTNM (cujo questionamento aguarda decisão judicial para ser publicada) como desculpa para ataques pessoais e políticos contra a minha pessoa. Em primeiro lugar, não reconheço em ninguém que se arrependeu e foi a televisão tecer comentários favoráveis a Ditadura credenciais para me criticar (lembre-se que esse vídeo pode ser requisitado judicialmente). Em segundo, não se pode colocar no mesma categoria livros essencialmente diferentes. Um foi o livro de Rubim Aquino Tempo para Não Esquecer. Outro foi o meu livro Desafia o Nosso Peito que em quase tudo difere do primeiro. Tanto em seu conteúdo, metodologia e bibliografia. Em terceiro lugar, o senhor está caluniando uma pessoa já morta como Rubim Aquino que, obviamente, não pode mais se defender de suas acusações. Quarto, o senhor procura esconder suas críticas pessoais citando uma nota divulgada na imprensa pelo GTNM que também está sendo objeto de questionamento judicial. Quinto, não cabe ao senhor e nem ao GTNM decidir quem está com a razão, mas ao Juiz do processo em questão. Sexto, tudo o que foi transcrito em meu livro baseia-se na autocrítica feita por Francisco de Assis Barreto da Rocha Filho em seu livro A Trilha do Labirinto divulgado pela Edições Bagaço ao publico em geral.

A autocrítica de Chico de Assis foi endossada pelo prefácio que o senhor assinou em seu livro. Vale a pena citar o que senhor mesmo diz:
“O inimigo nos havia destruído no campo de batalha. Depois, nós mesmos nos destruímos, acrescentando a derrocada física, também a moral”. Enfatizo que não me considero incluído nesta sua afirmação e, muito menos, concordo com sua ideia de derrocada moral em relação, não apenas a mim, mas a todos os companheiros que lutaram contra a ditadura. Portanto, não comungo com suas ideias autocríticas e não me considero representado em suas reflexões. Peço que o senhor respeite aqueles que discordam do seu ponto de vista e não concordam que a luta contra a ditadura foi um “labirinto sem saída”. Considero que a democracia dos tempos atuais se deve em grande parte a luta de inúmeros companheiros que deram suas vidas para que hoje possamos conviver em um regime democrático. .

Assim sendo, solicito a imediata retirada do meu nome Adail Ivan de Lemos do seu blog e de todas as referências a mim contidas.

Seguindo orientação legal, esse e-mail serve para tentar encontrar uma solução amigável para os improprérios que o senhor vem fazendo injustamente contra mim. Caso o senhor retire meu nome do seu blog, as acusações assacadas contra mim desde maio de 2012 serão desconsideradas.

Caso contrário, se o senhor persistir em manter seus ataques pessoais em seu blog, especialmente após minha solicitação de que o senhor retirasse meu nome de sua lista de companheiros, não restará outra alternativa senão a de preservar o meu nome e minha idoneidade tomando as medidas judiciais cabíveis.

Atenciosamente

Dr. Adail Ivan de Lemos

GTNM/RJ REPUDIA "LÓGICA POLICIALESCA" 
DE LIVROS SOBRE A DITADURA

O Grupo Tortura Nunca Mais/RJ acaba de lançar uma nota pública de repúdio aos livros Desafia o nosso peito, de Adail Ivan de Lemos, e Um tempo para não esquecer, de Rubim Santos Leão de Aquino, qualificando-os de "tentativas que se fazem de desqualificar e, mesmo, denegrir as histórias de resistência daqueles que, corajosa e generosamente, se opuseram à ditadura civil-militar implantada em nosso país".

Eis as principais críticas que o GTNM/RJ faz a ambos:
"Utilizando-se do mesmo modo de pensar que o Estado ditatorial brasileiro quando classificava os resistentes como inimigos do regime, os autores citados fazem uso de categorias tais como: infilitradosdedos-durosX-9cachorroscolaboradorestraidoresdelatores, dentre outras. Em especial, no livro Desafia o Nosso Peito há tabelas ridículas que nomeiam os presos políticos, muitos já mortos e desaparecidos, que à época abriramdelataramcolaboraramtraíram e  se infiltraram, dentre outras afirmações perigosas e, mesmo, estarrecedoras. Lembram-nos, em muito, os documentos ditos  sigilososconfidenciais e secretos da repressão.
"...tal lógica policialesca em nada se diferencia dos discursos belicistas, acusatórios e difamatórios com os quais nos confrontamos ao longo dos últimos 40 anos, advindos dos setores mais conservadores da sociedade brasileira. Sendo assim, o GTNM/RJ reafirma sua posição de cuidado e respeito ao falar de nossa história, de seus personagens e utopias, do que aconteceu, quando aconteceu, como aconteceu, bem como quanto a identificação dos responsáveis pelas violências então cometidas. Tudo isso implica em pensar a história de um outro modo, como uma postura ético-política, em especial para com aqueles que não estão mais entre nós para testemunhar os horrores pelos quais passaram. 
 "É a ditadura civil-militar e seu terrorismo de Estado que devem ser investigados, esclarecidos, divulgados e responsabilizados!"
A nota informa também ter passado despercebida à presidente do GTNM/RJ, Cecília Coimbra, "a gravidade de tal lógica [policialesca] presente no capítulo Colaboradores, Infiltrados e Informantes do Regime Ditatorial, motivo pelo qual ela agora exigiu a retirada do prefácio que escreveu para Desafia o nosso peito.

SEGUNDO ADAIL LEMOS, GRANDE 
PARTE DOS COMBATENTES 'ABRIU'

A tabela citada pelo GTNM/RJ tem o título de Classificação Cronológica dos Delatores e Grau de Reversäo dos seus Ideais. Nomeia 47 militantes e faz também a acusação genérica de que, no período 1970/74, "grande parte dos combatentes"  abriu.

Conhecedor dessas histórias, posso afirmar que há erros crassos tanto nas inclusões, quanto nas rotulações e também nas omissões; mas, claro, recuso-me a esmiuçar episódios tão sofridos e dolorosos. Quem entrou na luta com sinceridade de propósitos, deu o melhor de si pela causa e, ao ser preso, aguentou quanto e como pôde. Tirando os agentes que a repressão infiltrou na esquerda, ninguém deve ser criticado em função de sua capacidade de resistência física e/ou psicológica haver sido ultrapassada.

Vale lembrar, p. ex., os infames julgamentos de Moscou, quando os mais duros e calejados revolucionários,  que haviam dedicado a vida inteira à causa e suportado torturas de todo tipo, foram finalmente quebrados pelo martírio prolongado a que o stalinismo os submeteu: acabaram comparecendo balbuciantes ao tribunal para confessar os  crimes  mais bizarros e inverossímeis, como o de tentarem envenenar os reservatórios de água da URSS.

Sou mencionado no livro Desafia o nosso peito; embora a busca do Google (nesta 2ª feira, 7) indique 188 mil hits (textos meus ou em que sou citado) e haja dezenas de milhares de menções aos meus dois blogues, Adail Ivan de Lemos parece não ter encontrado nenhuma forma de me contatar, ou lhe faltou vontade de o fazer. Ignorar o  outro lado  facilitou seu trabalho, evidentemente, mas o expôs à acusação de leviandade que lhe faço agora. E leviandade das piores, pois se refere a reputações alheias.

Foi leviano ao me inserir e classificar na tal tabela sem  me dar direito de defesa e, mais ainda, ao escrever asneiras como a de que eu e o Francisco de Assis teríamos desistido de nossas causas e abandonado os ideais do passado.

Nenhum de nós deixou jamais de ser revolucionário. Logo na primeira vez em que a imprensa me procurou em liberdade (IstoÉ, em 1978), relatei minuciosamente as torturas a que havia sido submetido; depois, reiterei a denúncia ao jornal Zero Hora e à revista Veja, em plena ditadura. De resto, creio ser supérfluo relembrar minhas lutas dos seis últimos anos, quando, tendo recuperado minha credibilidade, pude finalmente cumprir o papel para o qual estava qualificado.

E a qualidade do Chico de Assis como escritor e sua integridade como lutador do bom combate evidenciam-se cristalinamente no seu ótimo livro de memórias políticas A trilha do labirinto (Inojosa Editores, 1993, relançado em 2008 pela Editora Bagaço).
Obs. artigo escrito e postado em 07/05/2012
QUEM OLHA PARA TRÁS VIRA ESTÁTUA DE SAL

O companheiro Francisco de Assis também ficou indignado com sua citação como revolucionário que teria abandonado os ideais do passado, no livro Desafia o nosso peito, de Adail Ivan de Lemos, sobre o qual escrevi aqui.

"De onde ele extraiu tamanha ignominia, em qual episódio se baseou, de quais fontes bebeu tanta covardia, nenhuma palavra. (...) Foram 9 anos, 4 meses e 27 dias [de prisão]. Durante todo esse tempo, enfrentei, nos limites máximos das minhas forças, os arreganhos diuturnos da repressão. (...) Eu estou exausto. Emocionalmente esgotado. Esse cara, o Dr. Adail (ops! por um momento me sentí numa sala de torturas, onde os caras costumavam se tratar por doutores!) conseguiu me derrubar de uma forma infinitamente violenta. Pela gratuidade e estupidez das acusações feitas. Pelo ineditismo delas, 42 anos depois dos fatos vividos" --desabafa o Chico.

No longo depoimento que enviou ao grupo Amigos de 68, ele comete, entretanto, o erro de esforçar-se por provar, tintim por tintim, que foi um preso político exemplar.

Essa fase passou, meu caro Chico; e não deixou saudades. 

O que importa para as novas gerações, aquelas que podem levar adiante as nossas lutas, o remoer obsessivo das acusações, justificativas, culpas e remorsos do passado? Isto só nos diminui aos olhos delas.

O certo é que travamos bravamente uma luta impossível de ser vencida, tal a desigualdade de forças. Era o que deveríamos ter concluído desde o primeiro momento, ao invés de infernizarmos a nós mesmos com a lavagem de roupa suja, a interminável discussão sobre como ocorreram as  quedas.

Alguém já levou em conta como o cidadão comum reage a tais esquisitices, começando pelos  quedogramas  elaborados ainda nos presídios? A repulsa que isto causa nos não iniciados?

Fui um dos mais militantes mais injustiçados do período, começando pelo fato de terem atirado nas minhas costas um dos maiores desastres da luta armada, o cerco de Registro, que pôs fim ao sonho guerrilheiro da VPR. Levei 34 anos para provar que a verdade era outra.

E, como eu estava mesmo na berlinda, muitos descarregaram sobre mim a responsabilidade pelas  quedas  que eles próprios haviam causado, apesar do organograma da VPR evidenciar que eu nunca poderia ter provocado o estrago que me atribuíram (coordenava um setor periférico, só mantendo contato orgânico com quatro comandantes, nenhum dos quais caiu por minha causa).

Durante 34 anos, encarei a estigmatização não como uma desonra (já que imerecida), mas sim como um estorvo a me atrapalhar quando estava travando minhas batalhas; ainda assim, consegui em 1986 evitar que a greve de fome dos  quatro de Salvador  terminasse em tragédia.

Quando, finalmente, desconstruí as lendas a meu respeito, dei por definitivamente encerrada a fase de prestação de contas. A minha versão dos acontecimentos está no livro Náufrago da Utopia, e é o que basta. As pessoas isentas e equilibradas tendem a concordar comigo; quanto às preconceituosas, nada as convence.

Desde então, pude fazer e venho fazendo o que mais gosto, o que sempre quis: escrever novas páginas, pois esmiuçar as antigas é tarefa para historiadores. "Deixai os mortos enterrarem seus mortos", disse o Cristo.

A conta que temos a prestar é bem outra: a de não havermos cumprido a promessa de construir um Brasil com justiça social e liberdade plena.

Ainda está em tempo de darmos os primeiros passos nessa direção, se assumirmos integralmente a tarefa e a ela dedicarmos o resto das nossa vidas. 

Revolucionário não pendura as chuteiras, morre. E quem olha para trás vira estátua de sal.
Obs. artigo escrito e postado em 13/05/2012 

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