São Paulo, setembro de 2012.
Prezado eleitor,
não estranhe se for eu mesmo, candidato a vereador de São
Paulo, que estiver lhe entregando esta mensagem. Minha campanha é humilde e
feita com muita dificuldade, como costumam ser as dos candidatos que não se comprometem a, eleitos, retribuírem as doações recebidas dos ricos e poderosos.
Sei que despejam propaganda política demais na vossa cabeça;
mas, humildemente, peço uns minutinhos de atenção. Pois o que lerá aqui não
são falsas promessas nem frases feitas. É uma história de vida.
Disputo a primeira eleição já sexagenário, mas meus ideais
vêm de muito longe: aos 16 anos eu já discutia com meus colegas de escola formas
de ajudarmos os melhores brasileiros a resistirem à ditadura mais bestial que
este país já conheceu.
Tornei-me líder secundarista e, quando os golpistas de 1964 passaram
a responder aos protestos pacíficos com assassinatos e torturas terríveis, não
recuei: ao lado de sete jovens companheiros, ingressei no movimento de
resistência armada ao despotismo que fora instalado pelas armas.
Mas, o que poderiam fazer uns tantos idealistas destreinados e mal armados
contra aqueles que, além de terem as armas como instrumentos do seu ofício, contavam
com esmagadora superioridade em efetivos, armamento e recursos? Dos oito que éramos, dois acabaram mortos;
cinco, fomos presos e barbaramente torturados; e uma escapou ilesa, mas, traumatizada
pela perda do marido e perseguições sofridas, nunca mais seria a mesma.
Quando enfim me libertaram, tive de reconstruir minha vida
nas piores condições, com uma lesão permanente e várias sequelas, ameaçado, vigiado,
estigmatizado.
Mesmo assim fiz longa carreira jornalística e continuei sempre
defendendo as bandeiras que norteiam minha existência: liberdade e justiça
social.
Até que os barões da imprensa, incomodados com minhas verdades,
me privaram do direito de trabalhar nas suas redações e até de ser citado em
suas publicações. Mas, limitado à internet, minha influência até cresceu e eu
pude dar boa contribuição para várias causas; orgulho-me de, como defensor dos direitos
humanos, haver evitado graves injustiças e ajudado a salvar pessoas valorosas.
Ainda não considero cumprida minha missão, nem completo o
legado que quero deixar às minhas filhas, netos, e ao meu povo.
A
São Paulo dos meus sonhos não é esta de qualidade de vida tão ínfima,
de transporte tão infernal e de tamanho descaso com as
necessidades e direitos mais elementares dos cidadãos -- palco, ademais, de
episódios chocantes como o de coitadezas sendo escorraçados a pontapés (ao invés de
civilizadamente tratados da dependência química que os está levando à morte) porque atrapalham grandes
empreendimentos imobiliários.
Admito sinceramente que o maior problema paulistano não pode
ser solucionado por prefeitos e vereadores: é o fato de que aqui os interesses
individuais prevalecem sobre os coletivos. Numa sociedade regida pela
ganância em detrimento do bem comum, jamais a população será respeitada como merece.
Mas, a administração pública não precisa ser tão medíocre e
desumana como a atual; nem os representantes do povo, tão traidores do povo.
Então, sem demagogia nem planos mirabolantes, eu apenas me proponho
a continuar fazendo o que fiz durante toda a minha vida adulta: defender os direitos
e os interesses dos humildes, contra a gula insaciável e as infames maquinações
dos poderosos.
Pode parecer pouco, em relação ao que tantos prometem. No
entanto, é bem mais do que eles entregarão.
Cordialmente,
Nenhum comentário:
Postar um comentário