Um espectro ronda a esquerda: o espectro da revolução.
Pelo mundo inteiro pipocam manifestações contra a ganância, essência do capitalismo -- com uma força e abrangência que não se viam desde as primaveras de 1968.
E, quando as rodas da História começam de novo a girar, após quatro décadas de marasmo e consumismo, a esquerda moldada na fase do refluxo revolucionário não consegue acompanhar os ventos de mudança.
Continua defendendo com unhas e dentes os regimes híbridos que sustentaram nossa fé nos anos difíceis, sem acordar para a realidade de que estamos ingressando numa época na qual podemos novamente sonhar com -- e devemos novamente lutar por -- uma revolução nos moldes clássicos.
Ou seja, internacional e desencadeada de baixo para cima, tendo os explorados como sujeito e não como objeto.
Pelo mundo inteiro pipocam manifestações contra a ganância, essência do capitalismo -- com uma força e abrangência que não se viam desde as primaveras de 1968.
E, quando as rodas da História começam de novo a girar, após quatro décadas de marasmo e consumismo, a esquerda moldada na fase do refluxo revolucionário não consegue acompanhar os ventos de mudança.
Continua defendendo com unhas e dentes os regimes híbridos que sustentaram nossa fé nos anos difíceis, sem acordar para a realidade de que estamos ingressando numa época na qual podemos novamente sonhar com -- e devemos novamente lutar por -- uma revolução nos moldes clássicos.
Ou seja, internacional e desencadeada de baixo para cima, tendo os explorados como sujeito e não como objeto.
Chega de abençoarmos aquelas ditaduras instauradas por quarteladas que, qual fazendas modelos, cuidavam bem do seu gado enquanto não tugisse nem mugisse! Não são e nunca foram o que, marxistas e anarquistas, tínhamos como meta, mas, aos olhos dos cidadãos despolitizados e manipulados pelas indústria cultural, acabam se identificando conosco, como se fôssemos totalitários e carniceiros.
O panorama que hoje se vislumbra é muito mais grandioso. Como Vandré cantou em 1968, temos de novo a certeza na frente e a História na mão.
BECO SEM SAÍDA
Já faz quase um século que os movimentos revolucionários desviaram por atalho que acabou conduzindo a um beco sem saída.
O
desvio foi decidido às vésperas da revolução soviética, quando o
Partido Bolchevique discutiu dramaticamente se valia a pena tomar-se o
poder num país atrasado, contrariando duas premissas marxistas: a da
revolução internacional e a da construção do socialismo a partir das
nações economicamente mais pujantes (e não o contrário!).
Foi uma avaliação arguta ou um dom profético que levou Marx a pregar uma tomada de poder em escala global? A História comprovaria ser o capitalismo tão poderoso que, se nações isoladas tentam edificar uma sociedade mais justa, ou são por ele esmagadas, ou sobrevivem ao preço da descaracterização de suas propostas originais..
Foi uma avaliação arguta ou um dom profético que levou Marx a pregar uma tomada de poder em escala global? A História comprovaria ser o capitalismo tão poderoso que, se nações isoladas tentam edificar uma sociedade mais justa, ou são por ele esmagadas, ou sobrevivem ao preço da descaracterização de suas propostas originais..
"...embora a Rússia não estivesse pronta para o socialismo, serviria como estopim da revolução mundial..." |
Deu
tudo errado. A reação venceu na Alemanha, a nova república soviética
só pôde depender de si mesma e, após rechaçar bravamente as tropas
estrangeiras que tentaram restabelecer o regime antigo, viu-se obrigada a
erguer uma economia moderna a partir do nada.
Quando
o ardor revolucionário das massas arrefeceu -- não dura
indefinidamente, em meio à penúria --, a mobilização de esforços para
superação do atraso econômico acabou se dando por meio da ditadura e do
culto à personalidade.
A
Alemanha nazista era o espantalho que impunha urgência: mais dia,
menos dia haveria o grande confronto e a URSS precisava estar
preparada. O stalinismo foi engendrado em circunstâncias dramáticas.
A
república soviética acabou salvando o mundo do nazismo -- foi ela que
quebrou as pernas de Hitler, sem dúvida! --, mas perdeu sua alma: já
não eram os trabalhadores que estavam no poder, mas sim uma odiosa nomenklatura.
Concretizara-se
a profecia sinistra de Trotsky: primeiro, o partido substitui o
proletariado; depois, o Comitê Central substitui o partido; finalmente,
um tirano substitui o Comitê Central.
Com uma ou outra nuance, acabou sendo este o destino das revoluções que tentaram edificar o socialismo num só país:
foram isoladas, tornaram-se autoritárias e não tiveram pujança
econômica para competir com o mundo capitalista, acabando por sucumbir
ou por se tornarem modelos híbridos (como o chinês, que mescla
capitalismo de estado na economia com despotismo stalinista na
política).
E AGORA, JOSÉ?
Agora, só nos resta voltarmos ao princípio de tudo: Marx.
Reassumirmos a tarefa de engendrar a onda revolucionária que varrerá o mundo.
Esquecermos
a heresia de solapar o capitalismo a partir dos seus elos mais fracos,
pois o velho barbudo estava certíssimo: as nações economicamente mais
poderosas é que determinam a direção para a qual as demais seguirão, e
não o contrário.
Isto,
claro, se tivermos como meta a condução da humanidade a um estágio
superior de civilização. Pois o cerco das nações prósperas pelos
rústicos e atrasados já vingou uma vez, quando Roma sucumbiu aos
bárbaros... e o resultado foi um milênio de trevas.
Se,
pelo contrário, quisermos cumprir as promessas originais do marxismo,
as condições hoje são bem propícias do que um século atrás:
"...crises tão agudas que só unidos e
solidários conseguiremos sobreviver..." |
- o capitalismo já cumpriu seu papel histórico no desenvolvimento das forças produtivas e está tendo sobrevida cada vez mais parasitária, perniciosa e destrutiva -- tanto que mantém a parcela pobre da humanidade sob o jugo da necessidade quando já estão criadas todas as premissas para o reino da liberdade, e o 1º mundo sob o jugo da competitividade obsessiva, estressante e neurótica, quando já estão criadas todas as premissas para uma existência fraternal, harmoniosa e criativa;
- os meios de comunicação que ele desenvolveu, como a internet, facilitam a disseminação e coordenação dos movimentos revolucionários em escala mundial, de forma que um novo 1968, p. ex., hoje seria muito mais abrangente (está longe de ser utópica, agora, a possibilidade de uma onda revolucionária varrer o mundo);
- a necessidade de adotarmos como prioridade máxima a colaboração dos homens para promover o bem comum, em lugar da ganância e da busca de diferenciação e privilégio, será dramatizada pelas consequências das alterações climáticas e da má gestão dos recursos imprescindíveis à vida humana, gerando crises tão agudas que só unidos e solidários conseguiremos sobreviver.
Nem preciso dizer que a forte
componente libertária original do marxismo tem de ser reassumida, pois
os melhores seres humanos, aqueles dos quais precisamos, jamais nos
acompanharão de outra forma (esta é uma das conclusões mais óbvias a
serem tiradas dos acontecimentos das últimas décadas).
A
bandeira da liberdade deve ser empunhada de novo pelos que realmente a
podem concretizar, não pelos que só têm a oferecer um cativeiro com as
grades introjetadas, pois a indústria cultural as martela dia e noite
na cabeça dos videotas.
É este o edifício sólido que podemos começar a construir com os tijolos do muro de Berlim e tantos outros muros tombados.
E é esta a postura com que poderemos nos afirmar como o que devemos e temos a obrigação de ser: a vanguarda dos indignados de todos os quadrantes. (texto publicado em 31/10/2011 no blogue Náufrago da Utopia)
E é esta a postura com que poderemos nos afirmar como o que devemos e temos a obrigação de ser: a vanguarda dos indignados de todos os quadrantes. (texto publicado em 31/10/2011 no blogue Náufrago da Utopia)
Companheiro, Celso, esta é uma bela análise, compreensível, límpida, corretíssima, acerca da História e, dos rumos, da Luta pela Construção de uma Sociedade, moldada em 'patamares', princípios, objetivos, realmente SUPERIORES, em termos de raça e vida humanas. Perfeito, estou emocionado, inspirado e TURBINADO para continuar a LUTA, VERDADEIRAMENTE REVOLUCIONÁRIA, pela implantação, construção, de um Mundo Comum, fraterno, pacífico, harmônico, igualitário, em TODO o Planeta Terra...
ResponderExcluirCelso, magnífica análise de toda a trajetória do marxismo no mundo. Muito bom. Concordo, PLENAMENTE. Faço minha todas as palavras, traçadas com argúcia, lucidez e consistência, por você. ATÉ A VITÓRIA...
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