O bizarro episódio em que uma
integrante do Conselho Nacional de Educação afirmou existir racismo na
obra de Monteiro Lobato, não se esgota na rejeição do seu parecer por
parte do ministro Fernando Haddad. É hora de nos defrontarmos com o
monstro, e não apenas com a mais chocante de suas monstruosidades.
O que havia para se dizer sobre o politicamente correto, Karl Marx já disse, em 1845, nas Teses sobre Feuerbach:
"A doutrina materialista de que os seres humanos são produtos das circunstâncias e da educação, de que seres humanos transformados são, portanto, produtos de outras circunstâncias e de uma educação mudada, esquece que as circunstâncias são transformadas precisamente pelos seres humanos e que o educador tem ele próprio de ser educado. Ela acaba, por isso, necessariamente, por separar a sociedade em duas partes, uma das quais fica elevada acima da sociedade.
A coincidência do mudar das circunstâncias e da atividade humana só pode ser tomada e racionalmente entendida como praxis revolucionária." (3ª tese)
"Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo." (11ª tese)
Ou
seja, os educadores que se arrogam o direito de decidir o que crianças
(ou a sociedade como um todo) podem ou não ler, e com que ressalvas lhes
devem ser apresentadas tais leituras, têm, eles próprios, de ser
educados.
As
mudanças das circunstâncias e da atividade humana só se dão por meio da
prática revolucionária, não de uma educação mudada (ou expurgada,
censurada, castrada, mutilada, maquilada, engessada, etc.).
Pois
não basta a adoção de outras palavras para eliminar-se a carga de
preconceitos com que as pessoas as impregnaram, nem fazer triagem de
obras artísticas para extirparem-se os comportamentos condenáveis nelas
retratados.
Somente
livrando a humanidade do pesadelo capitalista conseguiremos dar um fim a
todas as formas de discriminação, pois uma das molas-mestras da
sociedade atual é exatamente a busca da diferenciação, do privilégio, do
status, da superioridade.
Enquanto
os seres humanos forem compelidos a lutarem com todas as suas forças
para se colocarem acima de outros seres humanos, será ilusório
pretendermos tangê-los ao respeito mútuo por meio de besteirinhas
cosméticas.
É
desprezando os iguais que eles adquirem forças para a luta insana que
travam, pisando até no pescoço da mãe para alçarem-se a outro patamar da
hierarquia social.
Então,
a verdadeira tarefa continua sendo a transformação do mundo, para que
não haja mais hierarquia e sim a priorização do bem comum, com todos
contribuindo no limite de suas possibilidades para que sejam atendidas
as necessidades de todos.
Enquanto
nos iludirmos com esses pequenos retoques na fachada do edifício
capitalista, estaremos perdendo tempo: seus alicerces estão podres, para
além de qualquer restauração.
Ou o demolimos e tratamos de erguer novo edifício em bases sólidas, ou ele ruirá sobre nós.
É simples assim. (texto publicado em 09/11/2010 no blogue Náufrago da Utopia)
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